Esse post é o primeiro mergulho na série Icebergs da Aprendizagem, que apresentou 10 tipos de dificuldades relacionadas ao aprendizado do inglês. Aqui vamos abordar a dificuldade de aceitação do idioma como ele é e constatar que o inglês não é assim tão distante do nosso português.
"To really understand how a language works, you have to go to the roots of it", frase do meu grande professor e linguista John Whitlam, a quem eu dedico este texto, inspirado em uma de suas aulas no curso de pós-graduação em Ensino da Língua Inglesa.
"Para realmente entender como um idioma funciona, você precisa ir às suas raízes". Raízes são as origens, ou seja, como tudo começou. E as raízes do inglês vêm de longe, muitos anos antes de Cristo.
O inglês nasceu na Inglaterra, país que, em sua origem, sofreu influência de três grandes civilizações: Romana, Germânica e Viking. Por isso, a língua falada por estes três povos estão na raiz do inglês: latim, alemão e a língua viking conhecida como antiga língua nórdica ou antigo escandinavo. Muitos anos mais tarde, depois de Cristo, o inglês também sofreu influência do francês da Normandia, do qual herdou grande quantidade de palavras.
Por influência do Cristianismo, o latim é um elo de semelhança linguística e cultural entre inglês e português. A Língua Portuguesa é descendente direta do latim. No caso do inglês, as escrituras bíblicas tiveram que ser traduzidas do latim para o antigo inglês. E como o inglês era apenas uma língua falada naquela época, sem registros escritos, o vocabulário retratava apenas elementos simples do dia a dia e não os assuntos sofisticados que a bíblia apresentava, como questões sobre a vida e a morte. A partir da tradução da bíblia, o inglês ganhou várias palavras novas, criadas e importadas do latim. Assim o inglês se tornou uma língua escrita, sob influência do alfabeto latino/romano também.
Se idiomas fossem pessoas em uma árvore genealógica, a Língua Inglesa e a Língua Portuguesa seriam primas de segundo grau. Isso significa que, mesmo que tenham suas diferenças, elas têm uma mesma linhagem e descendência: uma língua ancestral chamada Indo-europeia, de onde vieram o latim, o germânico, o grego, o francês, entre outras dezenas. Então se você considera o inglês um idioma muito difícil de aprender, saiba que o cenário poderia ser bem pior se nada tivessem em comum. Pense nos idiomas japonês e português, por exemplo. Completos estranhos!
Há pontos de contato entre o inglês e o português, assim como há ligação entre primos de segundo grau. São distantes? Sim. Encontram-se pouco? Sim também. Mas o laço consanguíneo está lá. Por exemplo, de palavras do latim como praeoccupatio e consideratio nasceram consideration e preoccupation ou consideração e preocupação. Muito parecidas! O alfabeto é o mesmo, a estrutura das frases com sujeito, verbo e predicado, a estrutura dos pronomes pessoais é praticamente a mesma, exceto pela presença do pronome "it", entre outros exemplos.
Talvez por isso os falantes nativos da Língua Portuguesa tenham mais facilidade em assimilar as palavras inglesas de origem latina. Por outro lado, tudo que deriva do alemão e do escandinavo é mais complicado, como os phrasal verbs herdados dos Vikings. O que nós sabemos sobre a cultura dos Vikings? Absolutamente nada, exceto pelos filmes e séries.
Existe uma lógica linguística e cultural por trás da origem de cada palavra de um idioma e essa lógica tem influência na forma como nós o aprendemos. Vale visitarmos mais nossos primos e primas de segundo grau a partir de agora. Talvez tenhamos mais em comum do que supomos! Ao menos, poderemos aprender e ensinar cada vez mais nestes encontros. Aproximação e aceitação são palavras-chaves nesse processo.
Prof. Erika
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